À data em que escrevo este texto, a volatilidade dos mercados accionistas norte-americano e europeu situa-se nos 45,4 e 42,2 pontos, respectivamente. Estes valores comparam com o valor médio de 15,7 e 15,4 pontos, no último ano. Na base desta forte subida estão os receios quanto à propagação do novo coronavírus (Covid-19) e ao seu impacto na economia mundial e, consequentemente, nos resultados das empresas.
As Bolsas mundiais registaram perdas significativas, na ordem dos 15% na última semana de Fevereiro, e a volatilidade permanece elevada no início de Março, com perdas e ganhos alternados. Nem o corte de emergência das taxas de juro pela Reserva Federal norte-americana acalmou os mercados, que ainda tentam modelizar o impacto deste vírus no crescimento económico global: será um impacto de curto-prazo, seguido de uma recuperação igualmente rápida? Ou, pelo contrário, marcará o início de uma inversão de tendência, com uma possível recessão?
Para ser sincero, não sei. O que eu sei é que no início deste ano, tal como tive oportunidade de alertar por várias ocasiões neste espaço, as avaliações dos mercados accionistas estavam historicamente elevadas e a volatilidade muito baixa, aconselhando prudência e a manutenção de alguma liquidez em carteira. Neste momento, os mercados estão cerca de 15% abaixo dos máximos recentes e, consequentemente, menos sobreavaliados. Por exemplo, o PER (Forward 12M) do índice S&P-500 caiu dos 18,3x para os 16,6x, um valor mais próximo da média (pelo menos dos últimos 5 anos). Assim, admitindo que após as quedas recentes o mercado aproximou-se do seu valor justo (assumindo que os resultados esperados das empresas não sofrerão revisões significativas em baixa), os investidores não deveriam realizar alterações muito drásticas nas suas carteiras.
O importante será delinear (ou ajustar) um plano de acção, caso a situação se agrave. Primeira questão: a alocação de activos está adequada ao perfil de risco, ou são necessários ajustamentos? Segunda questão: possuindo liquidez disponível, quanto poderá investir no caso de os mercados caírem mais 10% ou 20%. Ou dito doutra forma, se os mercados caírem 20% qual a exposição desejada relativamente ao nível ‘neutral’ (110%? 120%? Mais?). Apanhar os mínimos é uma “missão impossível”, mas é possível planear os níveis para eventuais reforços de posições ou novos investimentos.
Concluindo, é certo que a propagação do Covid-19 terá um impacto negativo no crescimento económico deste ano. Porém, a extensão e duração do abrandamento ainda é difícil avaliar, pelo que se continua a advogar prudência. As avaliações já estiveram mais elevadas, mas a entrada no mercado deverá ser faseada, tendo presente um objectivo de exposição no caso de o mercado continuar a corrigir.
Forbes Portugal - Abril de 2020